Faltam menos de 5 meses para a eleição mais (ou menos) aguardada dos últimos anos e, enquanto ela não chega, pensamos em trazer uma discussão científica sobre a eficiência das formas de votação sobre a representatividade e a política em si.
O estudo não é focado em eleições governamentais e nem tem o intuito de ser uma verdade absoluta sobre a representatividade de votações, mas ele mostra como as diferentes formas de organização podem impactar na representatividade e na eficiência da política.
Além disso, se pararmos para refletir na quantidade de vezes que temos que eleger alguém para nos representar em algo, seja na turma da escola/faculdade, condomínio e demais grupos de interesse, vamos entender a importância de discutirmos a melhor forma de organização em coletivo.
Há basicamente duas formas de se realizar uma eleição, a partir da votação secreta ou de votos públicos e, normalmente, as eleições com votos secretos só são conduzidas quando há necessidade de assegurar a privacidade do eleitor. Portanto, é incomum ter um sistema de votos secretos para as representações mais básicas da nossa sociedade, como nos casos mencionados acima.
Não há muitas dúvidas de que votar em segredo ou abertamente ao público deve acarretar em pessoas eleitas diferentes, mas a dúvida é: os eleitos em votos secretos são mais representativos da população? Ou qual o grau de eficiência das suas políticas em comparação com pessoas eleitas abertamente?
Para investigar estas perguntas, os autores exploraram um projeto de uma ONG internacional que atua com microfinanciamentos. Neste projeto, são formados grupos de até trinta mulheres que se reúnem semanalmente para organizar depósitos em poupança e empréstimos a uma taxa de juros mais barata.
Dentro de cada grupo são eleitos cinco membros para presidir o comitê, ficando responsáveis por guardar os valores e fazer os registros das transações de poupança e empréstimo.
Para comparar as formas de votação, foi definido aleatoriamente duas formas de eleição dos representantes do comitê, as duas iniciam com uma discussão aberta entre os membros, mas na sequência uma delas entra em consenso abertamente sobre quem devem ser os representantes e a outra conduz votos secretos para escolher os membros do comitê.
Através do experimento, os autores confirmaram que o voto secreto conduzia a eleições com maior representatividade nos grupos, enquanto o voto aberto elegia representantes de maior qualificação profissional.
Já no quesito eficiência, foi observado que a modalidade secreta foi mais igualitária na distribuição dos empréstimos entre diferentes níveis de renda e mais efetiva ao manter os membros do grupo durante todo período observado.
Os resultados indicam que os membros mais pobres tiveram maior acesso a empréstimos nos grupos de voto privado, sendo que se observa que nos grupos de voto aberto, os membros mais pobres receberam 51% menos empréstimos que no grupo secreto.
O acesso mais inclusivo ao crédito pelo grupo de voto privado também não indicou perda de eficiência, dado que as taxas de inadimplência nos empréstimos se mostraram similares e não houve deterioração nas atividades de poupança e empréstimo pelo grupo.
REFERÊNCIAS
Deserranno, E., Stryjan, M., & Sulaiman, M. (2019). Leader selection and service delivery in community groups: Experimental evidence from uganda. American Economic Journal: Applied Economics, 11(4), 240-67.
Comments