Ao longo da ciência econômica, há inúmeras teorias e pesquisas que abordam o crescimento, tentando identificar os principais determinantes para ele. Entre as teorias mais conhecidas, está o modelo que simplifica a economia em capital e trabalho. A partir disso, infere-se que o crescimento deveria ser maior em regiões que ainda há baixo capital e menor naquelas que a economia já está bem desenvolvida.
Esta simplificação faz sentido, mas na prática esta relação não ocorre desta maneira, o que abre espaço para vários outros fatores que estão relacionados com a questão do crescimento econômico e torna o problema mais complexo.
Dado o contexto de digitalização e ganho de relevância da tecnologia no crescimento econômico, resgatamos o trabalho da Erika Ribeiro, Eduardo Gonçalves e do Ricardo Freguglia, que avaliam a existência de transbordamentos de tecnologia por meio do comércio intercional e, dependendo da capacidade de absorção dos estados, analisam se estes transbordamentos exercem papel no crescimento econômico das Unidades da Federação aqui no Brasil.
Os pesquisadores explicam que, "embora o atraso relativo proporcione a possibilidade de maiores taxas de crescimento, para que as taxas de crescimento fossem de fato maiores, seria necessário que a região fosse capaz de absorver os avanços tecnológicos e adaptá-los às suas necessidades." Então é preciso identificar não só a captação destes transbordamentos, mas o potencial de absorção deles.
Os autores fazem isso com proxys de importações de bens de capital, gasto de P&D nos países exportadores - para os transbordamentos - e grau de escolaridade e renda dos estados - para a capacidade de absorção.
Se até agora você não entendeu direito o que são estes transbordamentos e porque eles são positivos, pense que a compra de bens de outros países engloba a compreensão do que se trata aquele produto e da tecnologia incorporada nele, a capacitação para o uso e reprodução deste bem e outros ganhos derivados da proximidade do estado comprador com os produtos de tecnologia.
Com a análise, pode-se verificar que, ao longo dos anos, os estados que mais receberam transbordamentos de tecnologia estavam nas regiões Sul e Sudeste, além do estado do Amazonas. Os resultados também mostraram que estes transbordamentos ajudam a promover o crescimento econômico dos estados brasileiros. Assim, quanto maior as importações de máquinas e equipamentos e/ou quanto maior os gastos em P&D realizados nesses países, maior a taxa de crescimento econômico dos estados.
São por fatores como este que a argumentação de abertura econômica ganha relevância no contexto de desenvolvimento econômico moderno. A troca de informações e a capacidade de aprendizado para aumento da produtividade e da adoção de tecnologia são cada vez mais relevantes.
Os resultados completos podem ser encontrados no artigo original, publicado na revista da ANPEC.
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