top of page

Afinal, temos alguma crise no Brasil?

Foto do escritor: Henrique ReichertHenrique Reichert

Um artigo de análise da economia norte-americana relatou estar ocorrendo um descompasso entre os dados econômicos e o sentimento do mercado. Os indicadores que medem as percepções do mercado mostram picos de incerteza recordes, enquanto os índices de volatilidade da bolsa não mostram qualquer nível de preocupação.

A conclusão é que há, paradoxalmente, “incerteza sobre a incerteza”, ou seja, mesmo que algumas métricas sugiram um aumento da instabilidade, ela em si não reflete um risco econômico eminente. Ao menos até o momento, pois a disparada da incerteza é recente.

No Brasil, temos um paradoxo semelhante, mas que está se arrastando há vários meses. De um lado, há uma séria depressão na percepção dos empresários e nos índices de incerteza do mercado, mas que não caminham ao lado dos indicadores econômicos, que seguem em um ritmo crescente, apesar de não muito animadores.

Este descolamento entre a percepção e o real nunca foi tão longo. Nos últimos anos, principalmente em períodos difíceis, a reação do mercado sempre foi mais aguda que os níveis de atividade econômica, causando alguns descolamentos momentâneos sobre a percepção da economia e os indicadores reais da produção e renda.

No entanto, desde a os resultados das eleições federais de 2022, o nível de confiança dos empresários, principalmente do setor industrial, se deslocou para baixo e não retornou aos patamares antigos, mesmo com um nível de atividade econômica um pouco mais aquecido.


Se, de um lado parece não haver preocupações, por outro, a própria depressão de parte dos empresários e consumidores pode acarretar implicações concretas. Quando a população se sente insegura, tende a postergar investimentos e compras, gerando um efeito dominó que pode, de fato, desacelerar a economia. 

Soma-se a isso o aumento da taxa de juros brasileira e algumas acusações de má conduta nas pesquisas econômicas, o que poderia viesar os indicadores reais. Então, afinal, estamos realmente em crise ou apenas vivenciamos um cenário de incerteza que afeta nossas decisões econômicas?

O que os indicadores de confiança nos dizem?

Os índices de confiança são termômetros importantes para medir o otimismo ou pessimismo de diferentes agentes econômicos. Dois dos principais indicadores utilizados no Brasil são:

  • Índice de Confiança do Consumidor (ICC): Mede a percepção dos consumidores sobre a situação econômica presente e futura. Quando cai, sinaliza que as pessoas estão mais cautelosas e propensas a reduzir o consumo.

  • Índice de Confiança Empresarial (ICE): Agrega dados de diferentes setores produtivos e reflete as expectativas dos empresários quanto à demanda, investimentos e contratações.

Nos últimos meses, podemos notar uma volatilidade nesses índices. Em períodos de grande incerteza – seja por fatores políticos, mudanças fiscais ou choques externos – os indicadores tendem a cair, impactando diretamente as decisões de consumo e investimento. 

O que pode ter impactado o mercado?

É verdade que o aumento da taxa de juros, a Selic, é um fator que desestimula investimentos e a atividade econômica, favorecendo a alocação dos recursos no mercado financeiro, mas a escalada da taxa básica de juros ocorreu durante o ano de 2022, ultrapassando a faixa de 10% ao ano ainda em fevereiro daquele ano. O que não parece ter afetado as incertezas dos empreendedores.

Entre agosto de 2023 a agosto de 2024, a taxa básica de juros teve uma queda de 3 pontos percentuais que também não se refletiu nas expectativas dos empreendedores. 

É possível que os indicadores estejam errados?

Sim, é possível, mas isto é muito improvável. Nenhuma instituição de pesquisa é isenta de erros, e cada indicador econômico também possui seus prós e contras. Mas é exatamente por isso que existem várias fontes de dados diferentes, com metodologias e características próprias.

Estes indicadores, de diferentes fontes, como o Banco Central, IBGE, FGV, CNI, apontam para caminhos parecidos, sendo altamente improvável que todos sofram do mesmo problema de avaliação. Além disso, seria impossível burlar o próprio mercado de ações brasileiro, que também serve como um monitor do momento econômico atual. 

A Bolsa de Valores como reflexo do sentimento de mercado

O Ibovespa, principal índice da B3, reflete a confiança dos investidores no futuro da economia. Quando há otimismo, os preços das ações sobem, indicando um cenário de crescimento esperado. Por outro lado, quedas abruptas podem sinalizar receios com a política econômica, inflação ou instabilidade institucional.

No Brasil, os períodos de incerteza econômica costumam coincidir com oscilações acentuadas na Bolsa, que aconteceu em 2020, mas que não se repete no último ano.

A incerteza pode afetar a economia real?

Um estudo do Banco Central sobre incerteza e atividade econômica confirma que essa relação pode existir. A pesquisa aponta que um aumento na incerteza econômica reduz a formação bruta de capital fixo (investimentos produtivos), desacelera o consumo privado e pode elevar o desemprego . Em outras palavras, mesmo que a produção econômica esteja normal, a percepção de risco pode ser suficiente para frear o crescimento.

No final das contas, ainda que os indicadores de confiança oscilem e a incerteza persista, a economia brasileira não está necessariamente em crise. 

Diante desse cenário de incerteza e descolamento entre percepção e realidade, a lição para empreendedores e investidores é clara: não se guie apenas pelo sentimento do mercado, mas pelos dados concretos. O pessimismo pode ser influenciado por fatores políticos, midiáticos e por ciclos de incerteza que nem sempre se traduzem em uma crise real.

Se você está avaliando um novo investimento, expansão de negócios ou abertura de uma empresa, a melhor estratégia é analisar múltiplos indicadores. Dados sobre confiança do consumidor, desempenho setorial, competitividade local e tendências macroeconômicas são ferramentas essenciais para uma decisão mais segura. 

A Caravela ajuda exatamente nesse ponto: ao oferecer informações detalhadas sobre o mercado e a economia local, permite que empreendedores tomem decisões baseadas em fatos, não em percepções momentâneas. No fim das contas, quem investe com inteligência não se deixa levar apenas pelo ruído da incerteza, mas sim pela clareza dos dados.

Comments


bottom of page